Sossegado, assim é Renato Malcotti (mais conhecido nos fóruns como Blue Jazz). O apelido utilizado faz jus e é exclusivo, afinal, qual outro Uno Turbo possui a belíssima tonalidade utilizada primeiramente nas peruas Audi RS4?

Renato adquiriu seu Uno Turbo ‘94 praticamente por acidente. Em uma viagem à Rio Verde, voltando do Mato Grosso, Renato viu o carro parado em uma churrascaria e ficou encantado. Buscou saber de quem era e apresentou-se como proprietário do veículo o churrasqueiro do restaurante. O carro apresentava a estrutura bem conservada e estava financiado, porém, o ex-proprietário não estava conseguindo pagar o financiamento do veículo e Renato logo fez uma proposta irrecusável. O contrato verbal foi fechado e Renato voltou para Brasília com o carro já pensando em um projeto inédito para o primeiro carro turbinado fabricado no Brasil.

“Na parte mecânica a primeira idéia era fazer um 1.4 forte com um turbinão e nitro,mas logo foi deixada de lado pois o nitro não casaria bem no projeto por se tratar de um motor de baixa litragem.”. Para o a parte interior e de estética, o projeto visava bancos concha fixos e pintar o carro de branco pérola. Porém, em uma de suas viagens à São Paulo, Renato viu a cor que mudaria drasticamente seus planos em uma Audi RS4: O Blue Jazz. Começaram então os encontros e desencontros de um projeto que se tornaria referência em personalização, bom gosto e desempenho.

Como nem tudo são flores, alguns imprevistos aconteceram. Levado a uma empresa de funilaria e lanternagem por indicação de um conhecido, o responsável pela pintura do veículo sumiu com algumas peças originais do veículo como partes do teto-solar, estribos e interior. Após o incidente, Renato conseguiu adquirir novamente todas as peças faltantes e encaminhou o Uno Turbo à outra empresa para que fosse realizada a pintura. Já com a pintura em perfeito estado, o carro foi encaminhado à Flash Turbo em Brasília e por conta de uma goteira o carro teve que ser novamente repintado, mas todo o trabalho valeu a pena. A cor naturalmente esportiva chama atenção e se destaca dentre tantos outros Unos Turbos.

Mas o projeto ainda estava apenas começando. Com a parte estética pronta, o pessoal da Flash Turbo tratou de elevar a cilindrada deste Uno para 1.6L que posteriormente cairia nas habilidosas mãos de um grande amigo de Renato, Rodrigo da VTEC Powerchips para um ótimo acerto da centra eletrônica GM, mas isso é assunto para daqui a pouco. O cabeçote recebeu um extenso trabalho de fluxo executado pela Paula Faria de São Paulo com válvulas de escape em 42mm com molas mais rígidas para evitar a flutuação destas em altas rotações e uma leve abertura do coletor de admissão. Os pistões e bielas agora são forjados da marca Iapel e previnem o motor contra indesejáveis quebras. Com a cilindrada aumentada, cabeçote trabalhado e nova turbina, um novo comando foi encomendado à Sobe e tem graduação 282º x 292º específico para carros turbos de rua. A turbina utilizada é uma APL 525 atualmente regulada para gerar 1,8Bar de pressão por válvula blow-off da Belquip e o excesso é despejado pela de prioridade também Belquip, pois o carro está em fase de amaciamento. “Após essa etapa, a pressão vai ficar em 2,2Bar” – Afirma Renato. Todo o sistema de injeção é derivado do Corsa MPFI que conta com nada menos que oito bicos. Trabalhando na bancada primária , controlado pela injeção GM, estão quatro bicos da Blazer 4.3 V6. Na bancada secundária observam-se os quatro bicos originais do Uno Turbo que começam a atuar já aos 0,6Bar e são controlados por um módulo HIS. As encarregadas por enviar álcool aos bicos são duas bombas elétricas de GTI. Para dar vazão aos gases gerados, o escapamento é inteiramente em aço carbono de 2,5” desde o coletor até a ponteira, passando por apenas um abafador. O sistema de ignição é composto por bobina GM do tipo cabeçuda, cabos de velas de 8mm da americana MSD e velas frias de grau 9 da Eletrospark. O acerto final ficou por conta do Rodrigo da VTEC Powerchips que dedicou-se bastante para poder acertar toda o “maquinário”. Num trabalho esmerado, nota-se que o acerto do chip central contribui para uma marcha lenta lisa, sem engasgos ou falhas a cerca de 900 Rpm. A subida de giro é tão limpa quanto a marcha lenta, cortando à altos 7.800 Rpm por um pré-corte da ODG e não apresenta os incômodos “buracos” que se observa em carros preparados sem o devido acerto. Definitivamente o trabalho dedicado por Rodrigo fez a diferença no funcionamento. “O cara parou tudo o que estava fazendo para se debruçar em cima da central eletrônica do Blue Jazz, não tenho como agradecer o trabalho e a dedicação do Rodrigo. O cara foi muito amigo.” – declara Renato. A falta de dinamômetro em Brasília nos faz dever a cavalaria gerada, “mas menos de 250cv eu te asseguro que não tem. O carro é ignorante nas acelerações”, complementa o proprietário muitíssimo satisfeito com seu Blue Jazz.

Externamente nota-se o cuidado e a atenção nos detalhes. O carro possui todos os logotipos originais da versão mais brava dos Unos, faltando apenas a faixa degradê que corre pelas portas. “Tenho as duas originais em casa, mas ainda não tive tempo para colocá-las”. As rodas utilizadas são as belíssimas Binno B1080 calçadas em baixos pneus Yokohama da linha A.Drive de medidas 205/40-17” que sofrem para tracionar a cada troca de marchas, esmerilhando o asfalto a cada troca de marchas. A embreagem de 1.200 libras da Displatô transmite bem o tranco e nessa hora quem sofre são os pneus.

Para segurar o carro em arrancadas mais fortes, a eficiente suspensão original conta com o reforço de um “H” na estrutura inferior para não forçar demais a estrutura do veículo, mas que mesmo com todo o aparato ainda castiga o monobloco do Uno. Os quatro amortecedores originais foram re-trabalhados para maior carga e na traseira, o feixe de molas perdeu a mola menor. Para frear, o Uno Turbo Blue Jazz utiliza apenas o sistema original. “Esses freios são bons nem para a versão original, mas já tenho para instalar o kit de freios do Tempra Turbo com discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira”, informa Renato.

Internamente o Uno Turbo é completamente original. Bancos, volante, forrações... Absolutamente tudo é como veio de fábrica, mas com alguns “extras” para manter o motorista/piloto sempre bem informado. No local originalmente ocupado pelo cinzeiro encontram-se três manômetros de 60mm da Orlan Rober que são responsáveis por informar a pressão da turbina e das duas bombas de combustível. Mais abaixo, encontram-se os manômetros de pressão do óleo e o hallmeter. No porta-moedas estão instalados os módulos HIS e o pré-corte da ODG que também controla a shift-light instalada ao lado do painel original. No interior não podiam faltar os cintos de segurança vermelhos e Renato conseguiu todos zerados em concessionárias que, por incrível que pareça, algumas ainda possuem raras peças em estoque.

Por mais sossegado que o proprietário pareça, ele curte mesmo é acelerar. Além deste Uno Turbo Blue Jazz, Renato ainda guarda na garagem um outro Uno Turbo ’95 vermelho que roda com escape de 2,5” e turbina GT25 e uma BMW M3 que está encostada para receber um empurrãozinho extra de um caracol. Por isso Renato parece ser tão calmo, também, com tantas válvulas de alívio para o stress cotidiano, fica fácil entender o porque.

Renato agradece ao apoio dos amigos do Uno Turbo Clube do Brasil, Flash Preparações e ao amigo Rodrigo da VTEC Powerchips por toda a atenção, carinho, trabalho e apoio empregados na realização de seu projeto em forma de reconhecimento pelos esforços.